Editorial - Agressões e resistência
Dados constam do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil

A ascensão de governos de viés autoritário tem entre os termômetros mais precisos o aumento da violência contra jornalistas, devido à natureza desta atividade, voltada para a distribuição de notícias de interesse da cidadania.
Um novo balanço divulgado ontem indica o grau de perigo para quem exerce este ofício, com mais de um caso de agressão a jornalistas, em média, por dia, no Brasil, em 2022, totalizando 376.
Os dados constam do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, um trabalho confiável da Federação Nacional dos Jornalistas, devido ao rigor de quem vive de confirmar informações.
A redução do número em relação a 2021, quando foi registrado o recorde de 430 ocorrências, implica pensar na hipótese de fortalecimento da resistência, com a união de profissionais dos mais diferentes meios de comunicação.
Concorre para a redução de 12% o fato de as agressões terem perdido força com a perspectiva de declínio do projeto negacionista, graças à organização de uma frente ampla, afinal, vitoriosa no pleito de 30 de outubro.
A imprensa foi indevidamente substituída, no relacionamento com a principal fonte de informações do país, pelo cercadinho de admiradores do ex-chefe de Estado.
O ódio aos repórteres reverberou na população desprovida de repositório capaz de protegê-la das narrativas ofensivas, retrocedendo o Brasil ao período anterior à Revolução Francesa.
O recuo de dois séculos formou opinião pública contrária ao trabalho necessário de dar voz a todos os segmentos envolvidos em determinado contexto, de forma equilibrada.
Não raro o detrator e seus ministros, secretários e assessores foram procurados para dar as suas versões dos fatos, mas não retornavam a demanda, agredindo o princípio constitucional de ser a informação um bem público.
Fazer desacreditar este pilar do bom convívio, além de incentivar a censura, foram métodos de ataque, em clara inclinação para instituir regime de exceção, embora, felizmente, a intentona golpista não tenha prosperado.