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Empresas experimentam redução de dias de trabalho por semana

Medida visa aumentar bem-estar dos colaboradores, melhorar o engajamento e ganhar em produtividade

Publicado domingo, 04 de setembro de 2022 às 06:15 h | Autor: Fábio Bittencourt
Denise Moraes, diretora de criação no escritório AKMX
Denise Moraes, diretora de criação no escritório AKMX -

O mundo mudou e com ele as necessidades e os interesses individuais. Prova disso é a série de transformações por qual passa o mercado de trabalho. Home office, friday short (sexta-feira mais curta), e agora mais recentemente experimentos na tentativa de implementar uma redução na jornada semanal de cinco para quatro dias são algumas das medidas adotadas. Segundo os especialistas, o objetivo é a busca por um ponto de equilíbrio visando o bem-estar dos colaboradores, o aumento do engajamento e, por outro lado, ganhos em termos de produtividade.

De acordo com a diretora de Relacionamento da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Bahia (ABRH), Daniela Facchinetti, países como Japão, Islândia e Emirados Árabes já operam concebendo a diminuição dos dias trabalhados. Segundo ela, entre 2015 e 2019, o país nórdico europeu promoveu teste com 1% da população, que cortou um dia útil de trabalho na semana, reduzindo a carga horária de 40 horas semanais para 35 h, sem redução de salário. 

O objetivo era entender se a produtividade desses funcionários iria se manter, se o nível de motivação iria ser elevado, diz ela. “E o resultado foi fantástico. 40% no incremento da produtividade foi identificado, um aumento no engajamento e na redução do estresse. Ou seja, benefícios que iam além de proporcionar ao colaborador maior momento de lazer em família, mas também atuando na saúde mental dele de forma favorável, e ajudando as empresas com o aumento da produtividade. Com isso, alguns outros países instituíram algumas práticas, e esses experimentos têm acontecido, seja com redução da carga horária, ou apenas com a reorganização do trabalho de segunda a quinta-feira, mas mantendo a carga horária semanal. Aqui no Brasil, ainda é tudo muito incipiente, a gente vê pequenas ações, mas elas existem”, conta Daniela.

Psicóloga há mais de 20 anos na área de recursos humanos, professora de pós-graduação e coach de carreira, Daniela afirma que mudanças nas relações de trabalho que gerem vantagem para os dois lados devem ser testadas pelas empresas. Segundo ela, os trabalhadores estão cada vez mais conscientes da necessidade em se ter qualidade de vida, tempo para a família e uma alimentação adequada. E que as organizações devem ter “olhar atento” para casos de adoecimento.

Ela conta que, como resultado de um status quo, veem-se efeitos como o da “a grande renúncia”, na qual uma parcela cada vez maior de trabalhadores ao redor do globo pede demissão voluntária do emprego; a “demissão silenciosa”, que consiste em não se entregar mais do que o combinado. “Ou o presenteísmo, que é quando você vai até o local do trabalho, mas a sua cabeça, não, está distante”.

Autor do recém-lançado “Cultura de Confiança”, Luiz França se autointitula um “humanizador de organizações e inspirador de pessoas”. No livro, França aborda a revolução no mercado de trabalho vivida no atual período pós-pandemia e mostra que, sem propósito e liderança humanizada, colaboradores não mais estarão dispostos a continuar na busca do “resultado pelo simples resultado”.       

“Com a adoção do trabalho híbrido após o período mais intenso da pandemia, podemos dizer que as empresas que não se adequarem às novas exigências do mercado terão problemas para se manter de pé. Afinal, não há empresas sem pessoas. Não há dúvida de que vivemos uma crise, não apenas política ou econômica, mas uma crise de significado sobre o que compreendemos ser o trabalho.”

Ainda segundo o autor, o mercado de trabalho mundial passa por um momento de disrupção, e explica o motivo de frases como “matar um leão por dia”, “vamos para a batalha”, “temos de dar o sangue hoje”, embora muito comuns no ambiente corporativo, não dialogarem mais com a sociedade.

“Todos exigem para o agora a flexibilidade na rotina de trabalho”, aponta.

Alteração contratual

Especialista em direito do trabalho no escritório GBA Advogados Associados, Aline Carvalho destaca que, em casos de mudanças nas relações de trabalho pelas empresas, sobretudo com redução de jornada, a alteração contratual é necessária somente para os contratos já existentes, com a aprovação dos sindicatos. Para novos funcionários, ela diz, é necessário apenas adequar o contrato ao regime de jornada parcial. Segundo Aline, há duas formas de compensar o dia de trabalho: com 32 horas semanais (8 h/ dia), ou 40 horas (10 h/dia).

“O que precisaria estar presente no contrato de trabalho seria basicamente a previsão dos dias trabalhados semanalmente, bem como a carga horária desses dias, mantendo os salários de acordo com as convenções coletivas para determinada função. Contudo, uma semana de trabalho de quatro dias não deve ser confundida com uma programação extensa de trabalho durante esse período”. 

Diretora de criação na AKMX Arquitetura e Engenharia, escritório especializado em espaços corporativos, Denise Moraes fala que a pandemia mostrou uma grande aderência das empresas ao modelo híbrido, e conta o que muda ou deve mudar nos leiautes dos escritórios nesses casos. “Temos visto a adoção deste estilo de trabalho em larga escala. A grande maioria das empresas não determinou a quantidade mínima de dias ou quando os colaboradores devem estar no escritório. Hoje, o desafio é como organizar as novas rotinas de trabalho para que  performance e qualidade não sejam prejudicadas”, fala.

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