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Salvador: uma cidade que luta e se mobiliza

No aniversário da cidade, não temos dúvida da força de um povo acostumado a lutar e resistir

Publicado segunda-feira, 27 de março de 2023 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza | claudioandre@unilab.edu.br
Imagem ilustrativa da imagem Salvador: uma cidade que luta e se mobiliza
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A tese controversa da apatia social e política é mais um mito a ser vencido no debate político atual. À primeira vista, não podemos negar que as sociedades contemporâneas estimulam o “mergulho” na vida privada pari passu à negação da cidadania ativa no imaginário social. 

A tese da apatia pode ser criticada ao analisarmos que a democracia na Europa foi sendo moldada por lutas sociais intensas ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, mas não foi diferente nos países colonizados. Em 1711, explodiu em Salvador uma rebelião liderada por João de Figueiredo da Costa, o Maneta, que exigia a diminuição do preço do sal, item indispensável para a conservação de alimentos. O motim também visava criticar o Império, que decidiu instalar um novo escritório de controle da arrecadação de impostos na capital baiana.

Ao longo do ano de 1798, Salvador foi tomada por panfletos que exigiam igualdade política. A Conjuração Baiana defendeu a inclusão de indivíduos excluídos, tal como propunha os ideais de democracia e república a circular nos países europeus. Segundo o professor João José Reis (UFBA), na primeira metade do século XIX, a Bahia assistira a trinta revoltas de escravizados a favor da liberdade religiosa e o fim imediato da escravidão. 

O contexto sócio-histórico das lutas na capital baiana reverbera até hoje a existência de uma sociedade organizada e mobilizada. Não é à toa, que ao coordenarmos uma pesquisa inédita sobre os protestos em Salvador identificamos que entre o ano de 2018 e os primeiros cinco meses de 2020, tivemos 252 protestos catalogados em nossa base de dados por meio de pesquisa em jornais, blogs e redes sociais, ou seja, uma média de uma mobilização realizada a cada 3 dias. 

Outro dado impressiona: conforme estudo pioneiro intitulado Mapa das Organizações da Sociedade Civil (Ipea) mostrou que Salvador possui 7.975 Organizações da Sociedade Civil (OSC) registradas formalmente, ocupando o sétimo lugar no ranking nacional. 

O perfil destas OSCs é um retrato visível da cidade, pois, 34% destas entidades atuam no tema da religião e 25,9% estão engajadas em temas ligados a Desenvolvimento e Defesa de Direitos e 10,4% está atuando nas agendas ligadas à Cultura. 

No aniversário de 474 anos de Salvador, não temos dúvida da força de um povo acostumado a lutar e resistir. Como disse Jorge Amado no livro Bahia de todos-os-santos (1944), sobre a nossa população soteropolitana, “o povo é mais forte do que a miséria. Impávido, resiste às provações e vence as dificuldades. De tão difícil e cruel, a vida parece impossível e no entanto o povo vive, luta, ri, não se entrega. Faz suas festas, dança suas danças, canta suas canções, solta sua livre gargalhada, jamais vencido”. Parabéns, Salvador!

*Professor Adjunto de Ciência Política da Unilab e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: claudioandre@unilab.edu.br 

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