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Polarização na política baiana

Série histórica da disputa estadual entre petistas e “pós-carlistas” ganhou novos contornos em 2022

Publicado segunda-feira, 19 de dezembro de 2022 às 11:13 h | Autor: Claudio André de Souza*
Imagem ilustrativa da imagem Polarização na política baiana
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O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma das organizações partidárias mais importantes da democracia brasileira. Nos dezesseis turnos disputados entre 1989 e 2022, o partido ficou em segundo lugar em seis disputas (primeiro e segundo turno de 1989; primeiro turno de 1994 e 1998; primeiro e segundo turno de 2018) e ficou em primeiro lugar nos dois turnos dos pleitos de 2002, 2006, 2010, 2014 e 2022, ao passo que o partido ampliou sua bancada no Congresso e conseguiu crescer nos municípios elegendo milhares de vereadores e prefeitos. A longevidade do partido representa um fato incontornável: o “diferencial petista” reside na identificação de uma parte significativa do eleitorado ao longo da realização de várias eleições.

O cenário baiano é um retrato desta mudança, que se deu na década de 1990 com a total reconfiguração das lideranças a representar um projeto estadual de poder ancorado nas mudanças em nível nacional. Com o MDB e o PDT ainda liderando a oposição ao carlismo na figura do ex-governador Waldir Pires ao lado do PSDB baiano como expressão da força incipiente do novo partido em nível nacional, que representava o anti-carlismo em nível estadual, uma tática muito bem delineada nas eleições de 1994 com a candidatura de Jutahy Magalhães (PSDB) apoiada pela esquerda e a do ex-governador João Durval Carneiro (PMN), o que levou o pleito para o segundo turno e a posterior vitória de Paulo Souto (PFL), reafirmando a hegemonia carlista com forte inserção nacional no apoio ao presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

A eleição de 1998 em diante, a ascensão do fenômeno lulista galvaniza o crescimento dos petistas na Bahia na liderança da frente anti-carlista através da candidatura a governador de Zezéu Ribeiro (PT), bem como com Jaques Wagner (PT) organizando um palanque mais forte para Lula na Bahia.

Depois de 2002, os baianos escolheram sucessivamente governadores petistas, um fenômeno fortemente associado a presença do lulismo na competição política nacional. No entanto, a série histórica da disputa estadual entre petistas e “pós-carlistas” comprova que a eleição de 2022 decidida no segundo turno representou para a oposição ao PT um cenário de crescimento, já que desde as eleições de 2006 uma candidatura de oposição não conseguia ultrapassar os 40% de votos (ver gráfico).

Além disso, a vitória de ACM Neto (UB) nas maiores cidades baianas aponta para o desafio dos governos petistas em projetar lideranças “urbanas”. Diante de uma oposição mais fortalecida, as agendas prioritárias do governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT) precisarão olhar para o que ficou na cabeça dos eleitores da oposição, por isso, tanta atenção com o anúncio do seu secretariado em áreas importantes como educação, saúde e segurança pública.

 *Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: claudioandre@unilab.edu.br

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