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O voto dos baianos: com ou sem alinhamento nacional?

Pesquisas apontam tendência de crescimento de Jerônimo, ao passo que ACM Neto mantém-se em curva de queda

Publicado segunda-feira, 19 de setembro de 2022 às 00:00 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Jerônimo e Lula
Jerônimo e Lula -

Já deu para ver que teremos emoções fortes nesta reta final da eleição ao governo baiano. As pesquisas eleitorais apontam uma tendência de crescimento de Jerônimo Rodrigues (PT), ao passo que o líder das pesquisas, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) mantém-se em uma curva de queda acentuada de intenção de votos. Já João Roma (PL), o “pai” do Auxílio Brasil, segue estagnado e fracassa na capacidade de alinhamento nacional com o bolsonarismo, uma estratégia equivocada por priorizar a polarização com o PT, quando deveria, ao contrário, “desconstruir” ACM Neto, sendo o único caminho inteligente para angariar apoios em uma eleição na qual o ex-ministro se posiciona na terceira via. 

Embora, ACM Neto ainda se mantenha como favorito, de onde vem este cenário que torna a eleição em aberto e com possibilidade de mais uma virada dos petistas? Do papel “preditivo” da força de Lula e do PT na Bahia. Em 2002, com poucos prefeitos e uma chapa restrita aos partidos de esquerda, Jaques Wagner (PT) alcançou 38,47% dos votos. Já em 2006, com a força da coalizão nacional de Lula e a crise do carlismo, o petista foi eleito governador no primeiro turno com 52,89% dos votos válidos, sendo reeleito na eleição seguinte com 63,83% dos votos válidos. 

Em 2010, a presidente Dilma Rousseff (PT) obteve no primeiro turno 62,62% dos votos dos baianos. Em 2014, não foi diferente, Rui Costa (PT) virou a eleição contra Paulo Souto (DEM) com 54,53% e Dilma conquistou 61,44% de votos na Bahia. Em 2018, a reeleição de Rui Costa foi fácil (75,50%) após a desistência de ACM Neto. Fernando Haddad (PT) teve no primeiro turno 60,28%. 

Diante de um cenário com o governador Rui Costa avaliado positivamente por 49% da população, segundo a pesquisa Datafolha/Metrópole, e Lula com 62% de intenção de votos dos baianos, há condições plenas da força do lulismo repetir o alinhamento nacional das eleições anteriores na Bahia. Além destes fatores, também conta a favor a maior quantidade de prefeitos que tem se mantido na base aliada do governador, uma margem entre 250 e 260 prefeitos baianos, segundo estudo coordenado por este autor ao final da realização das convenções partidárias.

Com um calendário mais apertado para a realização da campanha, os petistas correm contra o tempo para tornar Jerônimo mais conhecido, embora a pesquisa Datafolha tenha apontado que o desconhecimento do petista apresentou uma queda significativa, diminuindo de 61% para 36%, mas ainda não é suficiente. 

Faltando duas semanas para as eleições, quanto mais Lula se mantiver com chances de vencer no primeiro turno, mais Jerônimo terá chances de crescer e vencer as eleições. Estando em queda, o que fará ACM Neto para convencer o eleitorado lulista a votar nele? 

*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: claudioandre@unilab.edu.br

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