O voto dos baianos: com ou sem alinhamento nacional?
Pesquisas apontam tendência de crescimento de Jerônimo, ao passo que ACM Neto mantém-se em curva de queda

Já deu para ver que teremos emoções fortes nesta reta final da eleição ao governo baiano. As pesquisas eleitorais apontam uma tendência de crescimento de Jerônimo Rodrigues (PT), ao passo que o líder das pesquisas, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) mantém-se em uma curva de queda acentuada de intenção de votos. Já João Roma (PL), o “pai” do Auxílio Brasil, segue estagnado e fracassa na capacidade de alinhamento nacional com o bolsonarismo, uma estratégia equivocada por priorizar a polarização com o PT, quando deveria, ao contrário, “desconstruir” ACM Neto, sendo o único caminho inteligente para angariar apoios em uma eleição na qual o ex-ministro se posiciona na terceira via.
Embora, ACM Neto ainda se mantenha como favorito, de onde vem este cenário que torna a eleição em aberto e com possibilidade de mais uma virada dos petistas? Do papel “preditivo” da força de Lula e do PT na Bahia. Em 2002, com poucos prefeitos e uma chapa restrita aos partidos de esquerda, Jaques Wagner (PT) alcançou 38,47% dos votos. Já em 2006, com a força da coalizão nacional de Lula e a crise do carlismo, o petista foi eleito governador no primeiro turno com 52,89% dos votos válidos, sendo reeleito na eleição seguinte com 63,83% dos votos válidos.
Em 2010, a presidente Dilma Rousseff (PT) obteve no primeiro turno 62,62% dos votos dos baianos. Em 2014, não foi diferente, Rui Costa (PT) virou a eleição contra Paulo Souto (DEM) com 54,53% e Dilma conquistou 61,44% de votos na Bahia. Em 2018, a reeleição de Rui Costa foi fácil (75,50%) após a desistência de ACM Neto. Fernando Haddad (PT) teve no primeiro turno 60,28%.
Diante de um cenário com o governador Rui Costa avaliado positivamente por 49% da população, segundo a pesquisa Datafolha/Metrópole, e Lula com 62% de intenção de votos dos baianos, há condições plenas da força do lulismo repetir o alinhamento nacional das eleições anteriores na Bahia. Além destes fatores, também conta a favor a maior quantidade de prefeitos que tem se mantido na base aliada do governador, uma margem entre 250 e 260 prefeitos baianos, segundo estudo coordenado por este autor ao final da realização das convenções partidárias.
Com um calendário mais apertado para a realização da campanha, os petistas correm contra o tempo para tornar Jerônimo mais conhecido, embora a pesquisa Datafolha tenha apontado que o desconhecimento do petista apresentou uma queda significativa, diminuindo de 61% para 36%, mas ainda não é suficiente.
Faltando duas semanas para as eleições, quanto mais Lula se mantiver com chances de vencer no primeiro turno, mais Jerônimo terá chances de crescer e vencer as eleições. Estando em queda, o que fará ACM Neto para convencer o eleitorado lulista a votar nele?
*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: claudioandre@unilab.edu.br